28/08/2023
Existem alguns mitos que, tenho certeza, dificultam o diagnóstico e o tratamento das disfunções masculinas. E essas crenças trazem um peso que agrava o sofrimento que existe nestas situações.
- Homem está sempre pronto para o sexo
- Homem que é homem não ” falha”
- Homem tem desejo em qualquer situação, com qualquer pessoa, em qualquer lugar
- “Contar para o médico? De forma alguma!! Que ele vai pensar de mim??”
- Ah, se não conseguir 2, 3 , infinitas ereções seguidas, tem alguma coisa errada
E por aí afora. E assim, muitas vezes quem leva o problema para o médico é a parceira. O machismo que permeia nossa sociedade dificulta essa conversa franca e necessária para a saúde sexual desse indivíduo, desse casal.
Mais uma vez, informação de qualidade é fundamental.
Quando o paciente chega a verbalizar o desconforto ou sofrimento associado à disfunção é porque a situação tornou-se insuportável ou a própria parceria deu um ultimato.” Ou você fala com seu médico ou eu vou falar!!!” Ou ainda: ” Se você não resolver o SEU problema, eu vou resolver o MEU. Vou embora”.
Lógico que não é o ideal. A consulta médica, seja com o urologista ou o médico de referência, que pode ser um clínico, geriatra ou cardiologista é, geralmente, a oportunidade para essa conversa. Acolher, não julgar, facilitar a exposição do problema sempre com respeito e empatia são fundamentais para que esse paciente possa ser diagnosticado e encaminhado para o melhor tratamento.
Usamos as fases da resposta sexual, desejo, excitação e orgasmo para situar a disfunção, sempre considerando que é comum haver queixa relacionada a mais de uma fase.
Vou abordar as disfunções mais comuns e os tratamentos disponíveis .
Ejaculação Precoce ( EP)
- 30% dos homens apresentam EP
- Pode ser ao longo da vida, quando presente desde o início da vida sexual, com todas as parcerias e na grande maioria das relações, ou adquirida.
- Definida como dificuldade de controlar pelo tempo desejado a ejaculação com sofrimento associado.
- Associa-se a ansiedade de desempenho,baixa auto estima , dificuldade para estabelecer vínculos
- Tratamento medicamentoso com anti depressivos, tramadol, anestésicos locais.
- Start stop, que se baseia na interrupção do estímulo excitatório quando houver a percepção de que a ejaculação se aproxima. Após a diminuição da excitação, retoma-se o estímulo. Essa técnica ” treina” um maior controle da ejaculação.
- Squeeze, que seria a compressão da glande por alguns segundos quando o homem percebe que vai ejacular. Repete-se o processo até haver retardo na ejaculação.
- Terapia sexual
Disfunção erétil (DE)
- Dificuldade recorrente ou persistente de obter ou manter uma ereção suficiente para desempenho sexual satisfatório, por tempo maior que 6 meses e na grande maioria das ocasiões.
- 40 a 50% dos homens acima de 60 anos se queixam de DE e é uma situação que gera intenso sofrimento com impacto na qualidade de vida.
- Alguns medicamentos podem provocar DE bem como o abuso de álcool, drogas e o tabagismo .Algumas doenças cursam com DE, como aterosclerose , diabetes, insuficiência renal ou hepática. Pode ser desencadeada por cirurgia na próstata ou por radioterapia e por deficiência de testosterona.
- Pode ser predominantemente orgânica ou psicogênica.
- O tratamento medicamentoso é a primeira escolha, havendo várias opções disponíveis, cada uma com seus prós e contras. Os mais usados são a Sildenafila ( Viagra), a Vardenafila( Levitra) e a Tadalafila ( Cialis)
- Injeção no pênis de substâncias que provocam a ereção, como a prostaglandina E1 ,a papaverina e a fentolamina.
- Dispositivos a vácuo para provocar a ereção.
- Em algumas situações, o recurso da prótese peniana pode ser necessário
- Reposição de testosterona
- Psicoterapia , com destaque para terapia cognitivo comportamental
Desejo sexual hipoativo
- Deficiência ou ausência persistente ou recorrente de desejo e fantasia sexual levando a sofrimento e dificuldades interpessoais.
- Menos comum no homem que na mulher, com incidência crescente ao longo da vida , podendo chegar a quase 5% nos indivíduos acima de 60 anos.
- Medicamentos podem interferir no desejo, como os antidepressivos e alguns anti-hipertensivos e abuso de álcool e drogas
- Importante a avaliação clínica para descartar diminuição dos hormônios da tireóide, diminuição da testosterona e depressão
- Lembrar que o envelhecimento cursa com diminuição de testosterona e pode justificar diminuição do desejo.
- Várias situações de ordem afetiva podem levar ao desejo hipoativo, como ansiedade, stress pós traumático, luto, cansaço, stress.
- O tratamento depende da causa e pode envolver medicamentos, como a reposição de testosterona , antidepressivos e psicoterapia.
Finalizando, gostaria de dizer que o primeiro passo rumo à solução é o diagnóstico adequado. Para isso, é necessário que os homens se sintam motivados e confortáveis para abordar suas dificuldades sexuais. E o médico deve estar capacitado para ouvir e encaminhar essas queixas, oferecendo informações e opções de tratamento que, na maioria das vezes, envolvem medicamentos e psicoterapia.