30/06/2023

Acredito que o aprendizado se constrói pela interação da informação com o  meio em que o indivíduo se insere, sua cultura, troca de  experiências , vivências. Também o que sabemos sobre sexo aprendemos continuamente ao longo da vida. Será? Deveria ser, tenho certeza. Ter curiosidade e interesse pelo assunto é muito importante, mas não é suficiente. Evoluir, aprender, praticar, inserir o sexo no nosso cotidiano e não deixá-lo num lugar distante, quase um acessório para ser usado em ocasiões especiais, é essencial. Essas ideias facilitam a vivência saudável da sexualidade, independente de parceria ou fase da vida.

Sexo funcional é o que acontece sem dor, sem desconforto, com satisfação . Na disfunção ocorre sofrimento, angústia.

Didaticamente dividimos as disfunções sexuais quanto à época do surgimento em primária ” doutora,  sempre foi assim” e secundária, quando aparece em um momento mais tardio, muitas vezes associado a um evento pontual ” doutora, até meu marido me trair, eu sentia desejo”.

Também a duração da queixa importa. ” Doutora, semana passada tivemos relação e eu não senti prazer” é diferente de  ” doutora, faz meses, anos, que não sinto prazer” . De modo geral, se a queixa existe por pelo menos 6 meses consecutivos, devemos investigar de forma mais detalhada.

E quais são as queixas mais comuns que recebo em meu consultório?

1. Diminuição do desejo, principalmente o espontâneo. Às vezes a falta de desejo é generalizada e pode indicar alguma doença sistêmica, como depressão, hipotireoidismo ou uso de algum medicamento, especialmente alguns antidepressivos.” Não sinto vontade de fazer  coisa alguma” é diferente de ” doutora, tenho disposição para tudo, menos para o sexo”.
2. Transtorno de excitação. Na verdade, para nós mulheres ,desejo e excitação se sobrepõe. Procure manter sua atenção na atividade sexual, evite pensamentos desviantes.
3. Disfunção do orgasmo. Somente com a parceria? Ou mesmo na masturbação você não consegue sentir prazer?
4. Dor associada à relação sexual. Todas as vezes, eventualmente? E para ser examinada, ou para ser tocada sem penetração, também dói? Dor, desconforto eventualmente é diferente de ” doutora, não consigo ter penetração. Parece que minha vagina está fechada”. Procuramos diferenciar a dispareunia , que é dor à penetração, do vaginismo, quando  não é possível qualquer tipo de penetração. Algumas mulheres apresentam dor na região externa, na vulva, a chamada vulvodínia.

Com relação aos homens, as disfunções mais comuns são:

1. Diminuição ou inibição do desejo, que muitas vezes se associa a stress, dificuldades com a parceria, uso de alguns medicamentos.  Menos  frequente é o  excesso de desejo,podendo ou não caracterizar uma compulsão.
2. Disfunção erétil, ou seja, dificuldade para manter a ereção por tempo suficiente para permitir a penetração. É mais comum nos homens com mais idade e se associa a alguns hábitos, como tabagismo, abuso de álcool , a algumas condições clínicas, como diabetes e doença aterosclerótica e ao uso de alguns medicamentos.
3. Ejaculação precoce é a situação mais frequente e tende a ser mais comum em  homens jovens, principalmente no início da vida sexual. A ansiedade tem papel importante na sua gênese.
4. Dor associada à penetração ou à ejaculação.
5. Ausência de orgasmo.

Vale lembrar que essa classificação tem valor didático e, na prática, muitas vezes existe a associação de várias queixas e uma disfunção pode causar o aparecimento de outra. Por exemplo, um homem com disfunção erétil pode desenvolver diminuição do desejo, numa tentativa muitas vezes inconsciente de evitar uma situação que o coloque frente à sua disfunção.

Uma mulher com dor à relação sexual pode desenvolver diminuição do desejo e da excitação.

Outro dado interessante é haver com frequência parcerias disfuncionais. Por exemplo,  o homem com ejaculação precoce muitas vezes se relaciona com uma mulher com diminuição do desejo

Entender que essas queixas são frequentes e muitas vezes  negligenciadas em uma consulta de rotina é apenas o início da jornada. Procure se informar e lembre-se de que o sigilo médico garante sua privacidade. Busque ajuda!

Autora:
Dra. Luciene Barduco
https://www.instagram.com/lulubarduco/