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O Eletrocardiograma continua sendo relevante na prática clínica?

A tecnologia vem se apresentando com importância cada vez maior na prática clínica, seja para diagnóstico […]

29/02/2024

A tecnologia vem se apresentando com importância cada vez maior na prática clínica, seja para diagnóstico ou terapêutica. Em cardiologia, exames não invasivos que avaliam o estado das artérias coronárias, como a angiotomografia de coronárias, ou a presença de inflamação e/ou fibrose, além de diversas outras aplicações da ressonância nuclear magnética cardíaca, vem facilitando diagnósticos precisos mais rapidamente. Com tanta evolução, ainda há espaço para um exame tão antigo como o eletrocardiograma?

A resposta é SIM (isso mesmo, com letras maiúsculas). Desde a descoberta de Willen Eithoven, que recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1924 por este feito, este exame continua a ser uma importante ferramenta na prática clínica para emergencistas e cardiologistas. Primeiro por ser um exame relativamente barato, de fácil obtenção de seu traçado, com tecnologia bastante difundida, critérios de análise bem definidos e portanto, possível de ser interpretado de forma assertiva por diversos profissionais.

Nas situações de emergência é essencial para o diagnóstico de doenças extremamente graves, como o infarto agudo do miocárdio, arritmias graves e queda intensa da pressão arterial, chamada de choque circulatório. Mesmo nas situações de Parada Cardiorrespiratória, todos os protocolos de atendimento irão incluir a obtenção de um traçado eletrocardiográfico para orientação das condutas a serem adotadas para sua reversão. Algumas patologias não cardiológicas poderão alterar o traçado eletrocardiográfico dependendo de situações especiais, como crises de tiroide e insuficiência renal, por exemplo.

Na prática ambulatorial, este exame nos auxilia a determinar alguns tipos de arritmia, como a fibrilação atrial, sobrecargas de câmaras cardíacas, como nas doenças das válvulas do coração ou na hipertensão arterial sistêmica, assim como a existência de cicatrizes no coração, decorrentes de infartos do miocárdio antigos. Outro dado importante é que a mudança do padrão do traçado eletrocardiográfico de uma pessoa demonstra a evolução do comprometimento cardíaco. Em situações de bloqueios no sistema de condução elétrica do coração, frequentemente progressivos com a idade ou com o surgimento de novas doenças, a realização seriada do eletrocardiograma em intervalos variados pode determinar a necessidade de implante de marcapasso cardíaco.

Por fim, muitos exames auxiliares mais complexos se baseiam na associação com o eletrocardiograma. O teste ergométrico, o holter de 24 horas, assim como cintilografia miocárdica (que indica defeito de circulação no músculo cardíaco) só são possíveis por contarem com o traçado eletrocardiográfico para sua execução.

Portanto, não se deve desprezar o eletrocardiograma como antigo, inadequado ou irrelevante. As informações que um traçado eletrocardiográfico podem contar são de extremo valor para um médico atento.

Sobre o autor: Marcello Barduco  

Cardiologista e Emergencista do Corpo Clínico do Hospital Sírio-Libanês. Pós-graduado em Geriatria pelo IEP – Hospital Sírio-Libanês. Gestor do Pronto Atendimento no Hospital Santa Cruz (2004 a 2009). Membro do comitê de ética do Hospital Sírio-Libanês (desde 2014). Responsável técnico pela Clínica Barduco há 25 anos. Membro do Conselho Editorial da TREVOO (desde 2021). 

marcello.barduco@trevoo.com.br