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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA MEDICINA – ALIADA OU CONCORRENTE DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE? 

A Medicina e as Ciências da Saúde sempre foram áreas do conhecimento que se beneficiaram de […]

08/10/2024

A Medicina e as Ciências da Saúde sempre foram áreas do conhecimento que se beneficiaram de investimentos em pesquisa. A rapidez com que novos preceitos e entendimento dos processos que estão envolvidos no desenvolvimento de doenças e em seu controle ou cura vem avançando de forma avassaladora. Conceitos muitas vezes cristalizados são colocados em cheque e novas terapias surgem a todo momento, nem sempre suficientemente respaldadas por estudos robustos. A velocidade da informação, divulgada por diversos meios e sem a curadoria adequada, traz para nossa realidade muitos desafios, tanto para os profissionais da saúde quanto para clientes. Com o surgimento de ferramentas de inteligência artificial (IA) nos últimos anos estamos diante de uma nova fronteira: enquanto a capacidade de compilação e análise de dados passa a ser possível em escala exponencial, como termos real controle e acurácia das conclusões que são geradas por estes mecanismos? Podemos delegar a programas de informática sofisticados todas as definições sobre o manejo de nossa saúde? 

Existem áreas das Ciências da Saúde em que a IA tem validade reconhecida e é usada em alguns locais de forma rotineira. Cada vez mais na área de diagnóstico por imagem, ferramentas de IA são utilizadas como instrumento de análise para aumento de produtividade. Uma máquina pode aprender a interpretar imagens de exames radiológicos através do “treinamento” que seria exaustivo para qualquer ser humano. Dessa forma consegue ter assertividade tão boa e até superior a radiologistas experientes. Outra aplicabilidade da IA nas Ciências da Saúde é na análise de dados para pesquisa. Compilar dados, analisá-los e propor novos usos para substâncias testadas no passado e descartadas em sua primeira análise tem sido utilizada como potencializador do desenvolvimento de novas drogas.  

Mas, e na prática clínica? Ferramentas de IA podem ajudar? Até que ponto podemos utilizar e confiar naquilo que é considerado conhecimento “gerado” pela IA no nosso dia a dia? Recursos de IA podem ser úteis na prática do consultório: preenchimento de laudos, geração de relatórios de consultas e até mesmo propostas de investigação clínica e tratamentos podem ser executados por ferramentas de IA. A redução do trabalho em atribuições burocráticas do exercício do consultório poderia levar a mais eficiência do tempo que o profissional dedica ao paciente. Apesar disso, ainda temos questões importantes quanto à utilização dessas ferramentas quanto a inviolabilidade de dados. A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) veda a divulgação de dados pessoais obtidos por meio de ação profissional. Ainda não temos uma regulamentação reconhecidamente blindada dessas ferramentas e a responsabilidade pelos dados obtidos num atendimento de saúde é exclusiva do profissional. Aparece aí um risco ao seu uso rotineiro. Para a atualização de avanços no conhecimento médico, ferramentas de IA são especialmente úteis, compilando dados recentemente apresentados. E em situações de acompanhamento de doenças crônicas, dados obtidos de instrumentos utilizados por pacientes podem ser rapidamente reunidos e analisados por ferramentas como essas, para definir o comportamento dessas condições e ajustes na terapia. 

E finalmente, a pergunta de ouro: A IA vai substituir o profissional da saúde no cuidado dos clientes? Neste momento, isso não é possível. A prática clínica depende da análise de informações objetivas e nem sempre absolutamente claras a respeito de vivências dos clientes, sendo necessária a interpretação das “entrelinhas” daquilo que está sendo dito e muita empatia dentro da relação que se estabelece nesta linha de cuidado. É bem provável que com o avanço da capacidade dessas máquinas de IA esta realidade chegue em algum tempo. Mas o olhar humano diferenciado no ato de tratar um paciente, com a gentileza do toque e do sorriso acolhedor, oferecendo a compaixão e a parceria nas vivências únicas das pessoas dificilmente serão, a meu ver, substituídas por um computador. 

Sobre o autor: Marcello Barduco  

Cardiologista e Emergencista do Corpo Clínico do Hospital Sírio-Libanês. Pós-graduado em Geriatria pelo IEP – Hospital Sírio-Libanês. Gestor do Pronto Atendimento no Hospital Santa Cruz (2004 a 2009). Membro do comitê de ética do Hospital Sírio-Libanês (desde 2014). Responsável técnico pela Clínica Barduco há 25 anos. Membro do Conselho Editorial da TREVOO (desde 2021). 

marcello.barduco@trevoo.com.br