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Envelhecimento e Sexualidade

Somos seres sexuais do nascimento até o final da vida.A forma como essa energia se manifesta […]

12/11/2024

Somos seres sexuais do nascimento até o final da vida.
A forma como essa energia se manifesta e a importância que ela tem variam com o tempo.
Costumamos associar a vivência plena da sexualidade à juventude e todo seu vigor físico, a toda sua potência.
E o que fazer dessa energia à medida que envelhecemos?
Será que o aumento da expectativa de vida nos acena com décadas de assexualidade?
O que esperar desse ser sexual que perde massa muscular, que entra na menopausa, que perde a ereção e os cabelos ?
A sexualidade, assim como nosso trabalho e nossas relações afetivas, também se transforma. E , como em outras esferas, não há perdas ou ganhos absolutos. A passagem do tempo tem suas perdas mas traz, também, maturidade e uma relação menos ansiosa consigo e com o outro.
A palavra, mais uma vez, é adaptação e o objetivo é qualidade de vida.
A própria OMS define o sexo como um dos pilares da qualidade de vida, junto a alimentação saudável, atividade física, sono adequado e manejo do stress.
Então temos o aumento real da expectativa de vida e uma vontade muito lícita de desfrutar dessa vida longa com qualidade.
E chegamos à proposta da minha reflexão de hoje.
Como o envelhecimento muda a sexualidade?
E minha vida, muda com o envelhecimento?
Lógico que sim!
Muito!!
E vou retomar essa palavra mandatária em todo esse processo: adaptação.
Para homens e mulheres a passagem do tempo traz mudanças orgânicas e funcionais. A partir da menopausa e sua ausência de produção hormonal, a mulher enfrenta uma situação chamada síndrome urogenital, que traz ressecamento vaginal, diminuição do conforto durante a penetração e maior risco de infecções e incontinência urinária. Essa situação tem tratamento específico, através de hormônio via vaginal, laser e fisioterapia pélvica. A menopausa é inevitável mas seus desconfortos podem e devem ser administrados.
Já os homens não sofrem perda da produção de testosterona mas é comum disfunção erétil, muitas vezes associada a outras condições clínicas ou medicamentos. Também existem tratamentos!!
Espera-se uma diminuição da sensibilidade do clitóris e também da glande mas isso não significa perda de satisfação. Significa explorar com mais calma e capricho esse corpo, focando na experiência em si e não na performance. Significa manter a intimidade e não deixar de lado o prazer. Adaptação, sempre! Buscar, além dos genitais, a cumplicidade que o encontro traz ao casal. O sexo tanto aproxima quanto afasta. Depende de onde eu o coloco na minha vida e de como eu o valorizo.
Também precisamos rever nossos preconceitos, nossos estereótipos. Deixar de ver o idoso como um ser desprovido de desejos, “ aposentado” da própria sexualidade. Isso é cruel e ultrapassado.
Vamos lembrar que idoso é o indivíduo com mais de 60 anos. Eu estou completando 59 e garanto que tenho planos e objetivos para curto, médio e longo prazo! Em todas as esferas que compõem minha vida. É uma opção e um compromisso comigo mesma: viver da forma mais plena e feliz que eu puder.
Sim, o prazer faz parte da nossa vida e quando eu entendo a sexualidade como um todo muito mais amplo e complexo que o biológico, o meramente genital ou hormonal, fica mais fácil entender que o envelhecimento muda, mas não extingue, essa energia. A menos que eu permita.

Sobre a autora

Luciene Miranda Barduco, médica formada pela USP, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso!

lulubarduco@gmail.com