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Dia da Mulher

Essas datas,  apesar de comerciais, chamam a nossa atenção  e podem levantar reflexões interessantes. Sou mulher, […]

08/03/2024

Essas datas,  apesar de comerciais, chamam a nossa atenção  e podem levantar reflexões interessantes.

Sou mulher, tenho 58 anos e me sinto muito a vontade para falar de minha trajetória.

Ser mulher , a princípio,  não foi uma escolha. Mas escolhi, ao longo de uma vida, a construção da mulher que sou.

Essa trajetória  começou numa família do sul de Minas , tradicional e católica, que não imaginava ter uma filha médica.   Parecia impossível  conciliar o feminino à  profissão.

O tempo mostrou que não.

Fiz Medicina  na USP, o que aumentou o peso dessa escolha.  Então, além de médica,  me dediquei a  uma especialidade clínico-cirúrgica, a ginecologia. Lembrando que o centro cirúrgico sempre foi reduto masculino.

E  as minhas múltiplas aptidões foram se acertando.

Houve períodos em que a profissional  preponderou e chegava a trabalhar bem mais que 12 horas por dia.  Houve outros em que meu gosto pela cozinha ou pelos cuidados com a minha casa se fizeram mais importantes.

Descobri que cuidar é  uma das expressões  mais femininas da minha personalidade. 

A maternidade foi a prova definitiva de que somos muitas em uma e o desafio de equilibrar esses papéis teve suas dificuldades.  Se trabalhava muito, sentia que negligenciava minha filha. Se me dedicava muito a ela, a profissional se rebelava. O tempo e  a maturidade me ajudaram a encontrar o equilíbrio  possível.  Não o ideal.

Acredito que a mulher não deve abrir mão de nenhuma de suas potencialidades. Que devemos buscar igualdade de tratamento,  de oportunidades  e de remuneração  em todos os ambientes.

Também acredito que curtir e cultivar tarefas ditas “ femininas” não diminui em nada meu compromisso  nessa busca.  Muito pelo contrário. Sinto que tanto na vida pessoal como profissional,  contribuo para conscientizar e libertar as mulheres que convivem comigo desses entraves.

Sim, dá para ser cirurgiã formada na USP e gostar de cozinha .

Dá para conversar e orientar sobre sexualidade  mesmo estando numa relação heteroafetiva , monogâmica e longa.

Essa é  a minha vivência e a minha contribuição  nesse Dia da Mulher.

Sejamos autênticas, ocupemos todos os espaços , que nenhum rótulo nos defina. E deixemos os preconceitos de lado.

Esse é  o verdadeiro poder.

Feliz Nosso Dia!

Sobre a autora

Luciene Miranda Barduco, médica formada pela USP, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso!

lulubarduco@gmail.com