Com quem você fala sobre sexo? Ou sobre a falta dele? As queixas ligadas à vivência […]
01/04/2024
Com quem você fala sobre sexo?
Ou sobre a falta dele?
As queixas ligadas à vivência da sexualidade são muito comuns no consultório do ginecologista. Mas, numa boa parte das vezes, essas queixas demoram para ser mencionadas.
E por que?
Nem sempre a mulher identifica ou consegue nomear sua dificuldade, até por desconhecimento de sua anatomia e fisiologia. O pudor, crenças advindas do seu contexto sócio- cultural e religioso, e até mesmo temor de julgamento podem impedir a referência a essas questões.
Seria natural pensar que o ginecologista, por sua formação, deveria estar preparado para investigar esse universo, além de oferecer o básico de sua especialidade. Mas muitos profissionais sequer perguntam sobre desejo, satisfação, desconforto ou dor. Por não se sentirem preparados para acolher e encaminhar essa paciente ou por terem dificuldades para lidar com a própria sexualidade. Uma vez ouvi de um colega que “ entrar nesses assuntos toma muito tempo “, o que é verdade. De outro ouvi “ Ah, nem pergunto. Não terei como resolver mesmo!”, o que também pode ser verdade. Mas precisamos mudar essas atitudes. A vivência prazerosa da sexualidade faz parte do conceito mais amplo de SAÚDE, que é muito mais do que a simples ausência de doença. E, se não estamos preparados para resolver , devemos, pelo menos, estar preparados para uma investigação mínima que possibilite o adequado encaminhamento dessa paciente.
Lógico que ninguém consegue saber tudo. Por isso existem as especialidades, as sub especialidades e inúmeras formas de aumentar o conhecimento sobre um assunto. Mas é necessário buscar esse conhecimento.
Por isso decidi fazer uma pós-graduação em sexualidade. Para decifrar as dificuldades das minhas pacientes, investigar ativamente essas questões e poder orientá-las.
As queixas mais comuns são relacionadas a diminuição ou mesmo ausência de desejo, dificuldade na excitação, dor ou desconforto na penetração e falta de orgasmo. E nesse universo se encontra praticamente metade das mulheres sexualmente ativas. Chocante, não é?
E como minhas pacientes me falam sobre suas dificuldades?
Quando o sofrimento é muito intenso ou prolongado, a queixa parece espontaneamente e já na primeira consulta. Algumas pacientes precisam estabelecer primeiro um vínculo de confiança comigo para se sentirem seguras e confortáveis para se exporem, o que pode levar algum tempo. Mas o mais comum é as dificuldades aparecerem na anamnese, que deve incluir as fases da resposta sexual , que são desejo, excitação, orgasmo e resolução , além de uma investigação clínica adequada , já que algumas doenças ou mesmo medicamentos podem impactar negativamente a sexualidade.
Nem sempre a queixa é explícita, pode vir “ disfarçada” em um sintoma diferente. Aí entra a experiência do profissional para entender o que realmente está provocando o sofrimento.
Esse é um assunto muito importante e do dia a dia do consultório. E que , numa boa parte das vezes, atuamos de forma simples, ensinando e identificando crenças infundadas.
Me conta, com quem você fala das suas dificuldades?
Deixe nos comentários!!😊😊
Sobre a autora
Luciene Miranda Barduco, médica formada pela USP, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso!
lulubarduco@gmail.com